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Ozarfaxinars

e-revista  ISSN 1645-9180

Direção: Jorge Lima   Edição e Coordenação: Fátima Pais

 

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Outubro 2019

 

Ser Professor, a alquimia do conhecimento e da emoção

Maria Lurdes Neves

 

Divulgamos neste número a publicação recente de uma obra da autoria da Doutora Maria de Lurdes Neves, formadora do CFAE_Matosinhos, que se destaca pela atualidade e oportunidade, enquadrando-se de forma relevante nos ventos de mudança que animam a atual conjuntura do sistema educativo no contexto da AFC - Autonomia e Flexibilidade Curricular.

  

 

Maria de Lurdes Gomes Neves, Investigadora do Centro de Psicologia da FPCEUP,  Professora Auxiliar Convidada Universidade do Porto

(Consultar nota curricular na íntegra)

 

  

Se as exigências políticas, sociais e culturais do mundo em que vivemos nos desafiam a abordar o trabalho educativo nas escolas em função de outras finalidades, de um outro tipo de organização do trabalho pedagógico na sala de aula e de outras estratégias de mediação pedagógico-didática, também nos desafiam a desenvolver um outro perfil como educadores para lidar com as gerações atuais.

 

  Vivemos tempos em que o conhecimento por si só não chega se não estiver associado ao ser e estar em relação com os valores humanos, em que o sentimento que se coloca em cada palavra, em cada gesto pode marcar a diferença e contribuir para o desenvolvimento da motivação dos alunos para o seu sucesso.

 

 Como refere o Diretor António Duarte Cunha do Agrupamento de Escolas Joaquim de Araújo: “numa sociedade global regida por valores, conceitos e práticas de controlo, eficiência, eficácia, excelência, qualidade total, entre muitos outros, a Escola não fica imune a toda esta panaceia, e encontra-se povoada de práticas gerencialistas, com “rosto” legalmente enformado, que visam o sucesso e a qualidade total dos serviços e cujo expoente máximo se plasma na publicação e publicitação de rankings. É neste sentido que Torres & Palhares (2009) declaram que a liderança emerge paulatinamente como uma variável de controlo da excelência escolar, ao arrepio de uma cultura de gestão colegial historicamente enraizada nas escolas portuguesas.

 

 As escolas, principalmente mega-agrupadas, tornaram-se muito mais complexas como organizações educativas, permeáveis em grande medida às mudanças ocorridas na nossa sociedade, aos públicos cada vez mais heterogéneos e multiculturais e, como afirma Afonso (2010) “às sucessivas (e contraditórias) orientações político-ideológicas para a educação, às estratégias de escolarização das famílias e dos seus filhos (enquanto jovens e enquanto alunos)”.

 

 Perante a evidência de que efetivamente “a condição natural da escola é o sucesso dos seus alunos”, as estratégias aqui apresentadas poderão ajudar as escolas, e os professores, claro está, a estabelecerem os alicerces para uma Escola que exige práticas de ensino diferentes.

 

 À escola de hoje exige-se que prepare os seus alunos para uma sociedade global e digital, que os capacite com conhecimentos, atitudes e valores para que sejam capazes de enfrentar o futuro incógnito.

 

 A motivação para o sucesso educativo e o apoio ao docente na implementação de estratégias de comunicação com os alunos, bem como para os desafios diários do ensino atual, é o objetivo das estratégias aqui apresentadas.

 

 Qualquer programa nacional de promoção do sucesso escolar só terá sucesso se houver mudança nas práticas letivas e colaborativas dos professores e, para que tal aconteça, os professores devem assumir por inteiro a sua autonomia para a construção reflexiva de uma Escola de todos e para todos” (Diretor António Duarte Cunha, Agrupamento de Escolas Joaquim de Araújo).

 

Como refere a professora Ariana Cosme trata-se de um livro de reflexão sobre práticas educativas que constitui um incentivo à mudança do que fazemos no actual contexto educativo e uma forma de repensar os desafios do processo ensino-aprendizagem que assistimos diariamente.

 

 Integrada nessa reflexão apresentam-se ainda as diversas ferramentas para ajudar de forma positiva e construtiva os professores a lidarem as transformações que a prática docente tem vindo a enfrentar a partir de uma reflexão inicial sobre o que podemos nós mesmos mudar quando acreditamos em nós próprios e acontece a verdadeira transformação na história de se “Ser professor: a alquimia do conhecimento e da emoção”.

 

 As exigências políticas, sociais e culturais do mundo em que vivemos desafiam-nos a abordar o trabalho educativo nas escolas em função de outras finalidades, de um outro tipo de organização do trabalho pedagógico na sala de aula e de outras estratégias de mediação pedagógico-didática. Trata-se de um desafio complexo a exigir de abordagens diversificadas ao nível da gestão do processo de ensino e de aprendizagem ao reconhecermos que os alunos terão de ser estimulados a assumir um maior protagonismo como atores educativos num processo que lhes diz, diretamente, respeito.

 

 O atual contexto socioeducativo português desafia os profissionais da educação, e em particular os docentes, à concretização de um projeto de sucesso educativo para todos os alunos. A operacionalização deste desafio coloca os professores perante diversos problemas que não se reduzem apenas à melhoria das condições logísticas de trabalho nos contextos escolares ou à mobilização de outros recursos educativos que potenciem o alargamento do campo das experiências a viver pelos alunos. O desafio amplia-se ao esperarmos que as situações e as experiências vividas nas escolas se constituam, de facto, como oportunidades capazes de proporcionar situações de desenvolvimento pessoal, social e cultural aos alunos ao contribuírem para que os alunos se possam autonomizar progressivamente como aprendentes quer em termos cognitivos, quer em termos estratégicos, quer em termos culturais, aprendendo a aprender.

  

Finalidade esta que, em meu entender, tanto corresponde a uma necessidade da vida das pessoas nas sociedades contemporâneas, como responde aos estudos que, no domínio da cognição, acentuam o papel da autorregulação como um fator decisivo que permite sustentar a ocorrência de aprendizagens significativas e o desenvolvimento, concomitante, de competências de autoaprendizagem que contribuem para que os alunos se possam tornar mais capazes de definir estratégias, de refletir sobre essas estratégias, sobre os recursos a mobilizar e sobre as tarefas que irão permitir resolver os desafios e os problemas com que se defrontam, o que, entre outras coisas, favorece o seu desenvolvimento e afirmação como pessoas num mundo mais contingente e imprevisível.

 

  Este é um livro que estimula os professores a pensar sobre as alterações que a profissão tem vindo a sofrer ao longo dos últimos anos e nas transformações que a prática docente tem vindo a enfrentar a partir de uma reflexão inicial sobre “Ser professor: a alquimia do conhecimento e da emoção”. Estruturado a partir de quatro capítulos os leitores são orientados a partir da apresentação de modelos de inteligência, de modelos de aprendizagem e de metodologias de ensino, apresentados no Capítulo I, e sobre as suas implicações quanto ao modo como se entende a aprendizagem significativa e a motivação escolar, explorando-se depois a articulação que se estabelece entre o despertar a motivação e o compromisso dos alunos para a escola e os desafios para novas formas de liderança em sala de aula no Capítulo II com a apresentação de instrumentos de diagnóstico dos estilos de aprendizagem que poderão ser usados para avaliar o perfil de aprendizagem dos alunos.

 

 A motivação ao ser definida de modo tão amplo, assume a importância da participação dos alunos na definição das atividades e das tarefas que no espaço da sala de aula lhes dizem respeito, quer no seu envolvimento e na definição de estratégias e da gestão dos recursos que são necessários à prossecução dessas atividades e tarefas, quer na realização de iniciativas relacionadas com a monitorização e a avaliação do trabalho desenvolvido e dos resultados do mesmo. Por outras palavras, somos desafiados neste livro, a entender que a motivação dos alunos para aprender e para se envolverem no trabalho escolar também passa pelo modo como são estimulados a desenvolver as suas competências de autoaprendizagem e, em particular, as suas competências cognitivas.

 

 Trata-se de um importante contributo para desafiar os leitores a refletir sobre os objetivos educativos relacionadas com o desenvolvimento de competências cognitivas, metacognitivas, estratégicas e instrumentais dos alunos no domínio da autoaprendizagem dos alunos a partir de um conjunto de ferramentas e instrumentos transversais propostos no Capítulo III. O desenvolvimento das competências de autoaprendizagem dos alunos e, em particular, das competências cognitivas, tal como têm vindo a ser definidas neste livro, não são entendidas como objeto de projetos insulares, sendo entendidas como preocupações transversais às diferentes áreas curriculares, ao modo de funcionamento das mesmas e ao nível das diferentes exigências e desafios escolares.

 

 Destaco como muito desafiantes as iniciativas que são objeto de proposta e discussão a partir do Capítulo IV sobre 10 Casos ...10 desafios, com a respetiva proposta de intervenção e apresentação de instrumentos e ferramentas que poderão ser utilizadas/mobilizadas e que se colocam, quer ao ensino, quer à investigação e ao desenvolvimento de programas relacionados com o desenvolvimento de estratégias cognitivas e de atividades que poderão servir de referência ao trabalho dos professores como agentes capazes de promover iniciativas no domínio da promoção das competências de autoaprendizagem, do aperfeiçoamento das suas competências, do aumento do índice de autoconfiança e de motivação e valorização dos seus alunos.

 

 Os depoimentos contribuem para a reflexão sobre algumas das tendências, interrogações e equívocos que deverão ser tidos em conta no âmbito do processo operacionalização das iniciativas pedagógicas que se relacionam com o desenvolvimento das referidas competências de auto--aprendizagem dos alunos e sobre o tipo de compromissos pedagógicos que permitem sustentar esses projetos, sobre o papel que os professores podem assumir nesse âmbito, sobre as dimensões pedagógicas estruturantes que configuram aquelas iniciativas.

   

Ser um professor de sucesso conforme se defende em “SER PROFESSOR, A ALQUIMIA DO CONHECIMENTO E DA EMOÇÃO” implica, assim, seguir alguns princípios (Marujo, Neto & Perloiro, 2005):

 

1. Partilhar um espírito alegre e entusiasmado.

  

2. Saber que aprender é um processo afetivo

e que se deve dar prioridade às emoções envolvidas na aprendizagem.

  

3. Gostar daquilo que se faz e ter prazer em estar com os seus alunos.

 

4. Inspirar e motivar alunos e colegas.

 

5. Conseguir fazer a ligação do que se ensina

com a realidade fora da escola e da sua relevância para o futuro dos alunos.

 

6. Conhecer cada aluno de uma forma individualizada.

 

7. Ter alunos com um bom desempenho,

dentro das capacidades que possuem.

 

8. Ter alunos felizes, que sorriem, que brincam,

que têm sentido de humor e que gostam de estar na sala de aula.

 

9. Ter alunos que o/a admiram

e que não têm medo do professor nem o desrespeitam.

 

10. Ser um modelo positivo e credível para os alunos

e para outros “pares” – professores.

 

11. Conseguir estabelecer um diálogo positivo

entre pais-professores-alunos-escola.

 

12. Gostar tanto de ensinar como de aprender

e ter vontade de saber cada vez mais.

 

13. Ter alunos que se entreajudam,

tanto nos aspetos escolares como nas relações sociais.

 

14. Ter turmas onde a relação interpessoal entre os alunos é positiva.

 

15. Ter alunos reflexivos, participativos e criativos que falam,

expõem as suas ideias e o/a confrontam de forma positiva e saudável.

 

16. Ter alunos que demonstram o carinho

sob várias formas e que partilham o que sentem.

 

17. Ter alunos que em adultos vêm agradecer o que lhes foi ensinado.

 

18. Ter alunos que escolhem ser também professores no futuro

porque tiveram exemplos que quiseram seguir.

 

19. Ter alunos que num debate ou conversa usam os exemplos dos professores

– a entrega, o afeto e o envolvimento profissional.

  

“Ser professor, a alquimia do conhecimento e da emoção - um guia para professores do século XXI”, é uma obra oportuna na atual conjuntura da escola portuguesa e que espero possa vir a contribuir para a construção de novas oportunidades de sucesso educativo para os alunos.

  

  

Neves, M.L.G. (2019) Ser Professor, A Alquimia do conhecimento e da emoção

- Um gui para professores do Séc. XXI, Ed. Legis Editora - Mais Leituras, Porto.

  

Referências bibliográficas

 

Almeida, P. (2007). Questões dos alunos e estilos de aprendizagem – um estudo com um público de Ciências no ensino universitário. Tese de Doutoramento,Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa - Universidade de Aveiro.

Alves, R. (1994). Alegria de Ensinar. Ars Poetica Editora Ltda.

Arends, R. (2008). Aprender a ensinar. (7.ª edição). Editora McGraw-Hill.

Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.

Bandura, A. (1997). Self- Efficacy: The exercise of control. New York: Freeman.

Beheshti, S. (2009). Improving studio music teaching through understanding learning styles.International Journal of Music Education, vol. 27 no. 2, 107-115.

Marujo, H. A; Neto, L.M & Perloiro, M.F (2005). Educar para o otimismo. Editorial Presença.

Fonseca, A. (2014). A importância da prática de orquestra no ensino especializado da música: implicações no âmbito da motivação para a aprendizagem instrumental. Tese de Doutoramento, Departamento de Comunicação e Arte- Universidade de Aveiro.

Fonseca, V. (2007). Dificuldades de Aprendizagem: na Busca de Alguns Axiomas. Rev.Psicopedagogia, 24 (74), 135-148.

Gardner, H. (2006). Multiple Intelligences: New Horizons. New York: Basic Books.

Marujo, H.; Neto, L. M. & Perloiro, M. F. (1999). Educar para o optimismo. Editorial Presença.

McCrindle, M., & Wolfinger, E. (2009). The ABC of XYZ: Understanding the global generations. The ABC of XYZ. Ministério da Educação (2017). Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória, Lisboa, 24 p.

 

Nota curricular da autora

 

Maria de Lurdes Gomes Neves

é apaixonada pela educação e pelo ensino, tem dedicado a sua vida à mudança das pessoas e das organizações, em particular nas organizações. Realizou o Doutoramento em Psicologia, com especialização em Psicologia da Educação da Universidade do Porto, Mestre em Psicologia das Organizações pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Áreas de Especialização em Psicologia da Educação, Psicologia das Organizações, Orientação Vocacional e Coaching Organizacional e Psicológico pela Ordem dos Psicólogos. Docente do ensino superior. Marca registada Coaching para Docentes ®Consultora na área de Gestão de Recursos Humanos e da Liderança e desenvolvimento de competências pessoais e interpessoais em contextos públicos e privados. Ministra formação nas áreas de Formação Comportamental, Avaliação de Desempenho, Gestão de Trabalho em Equipa, Formação Pedagógica Inicial e Contínua de Formadores, Diagnóstico, Conceção, Avaliação e Gestão da Formação, Motivação, Liderança de Equipas e Coaching (Business, Life Coaching, coaching para docentes e coaching parental) com públicos diversificados do setor público e privado. Consultora especializada em Recursos Humanos, seleção e recrutamento em empresas privadas e em Agrupamentos de Escola para o desenvolvimento da liderança estratégica e diferenciação curricular em sala de aula. Investigadora no Centro de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto; Autora de escalas de perceção de liderança e motivação no trabalho adaptadas a Portugal;Diversas comunicações e publicações nacionais e internacionais na área da liderança, coaching, mudança organizacional, educação e formação profissional. Exerce funções de formadora no CFAE_Matosinhos, nomeadamente, no âmbito do PNPSE - Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, orientando a ação C620. Coaching para docentes e relação positiva com os alunos.

 

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