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Ozarfaxinars

e-revista  ISSN 1645-9180

Direção: Jorge Lima   Edição e Coordenação: Fátima Pais

 

[Outros números publicados]

 

 

___89___

Abril 2020

 

Ensino a Distância em tempos de “guerra” – COVID-19

 Jorge Lima e Fátima Pais

 

 

Para começar

Vivemos tempos inusitados… A Pandemia COVID-19 fez-nos recolher de um dia para o outro em nossas casas em tão pouco tempo que não nos deixou espaço para a perplexidade. Demoramos uma semana a perceber o que nos tinha atingido, desestruturando praticamente (esperemos que temporariamente) toda a organização económica, social, escolar… a níveis que se torna impossível não associar a cenários de filmes futuristas, catastrofistas, apocalíticos…

Passado o primeiro embate, a nossa resiliência entrou em ação e fez-nos encontrar energias onde se estavam a tentar alojar desalentos…

Os profissionais de saúde são, sem dúvida, os guerreiros na linha da frente de combate a essa enorme perversidade em forma de vírus… a eles ficaremos a dever sobrevivência… gratidão infinita! Observar a sua atividade incansável de cada dia impele-nos, a cada um de nós, seja em que outro ramo de atividade for, a arregaçar as mangas e a tentar replicar no nosso campo de ação tudo o que formos capazes de fazer para restabelecer a nossa organização, provavelmente, não nos mesmos moldes que a conheciamos, mas em novas formas.

Aos professores cabe o desafio de, praticamente de um dia para outro, passar de ensino presencial a ensino a distância. Os estudiosos destas matérias, em condições normais, levariam as mãos aos céus em lamentos de negação. Só que, de momento, não temos tempo para isso! A realidade, mais uma vez, ultrapassa as mais ousadas conjeturas e exige-nos a tomada de medidas, não porque sejam as mais apropriadas, talvez, mas antes e, simplesmente, por que tem que ser! O Ensino a Distância, neste momento inimaginável da nossa história coletiva, “tem que ser”!

Compreendemos as palpitações e os temores que tentam apoderar-se de muitos de nós face a este “abominável ensino novo”… o “a distância”…. Bem, para começar não se trata de “ensino novo” e para continuar não é “ensino à distância” mas “ensino a distância”… é um ensino em que professor e aluno se encontram distantes fisicamente, não é um ensino à Dona Distância… Essa senhora, não a conhecemos, nem temos nada para lhe ensinar! J Esta era a primeira frase do saudoso Professor Altamiro Machado, docente da Universidade do Minho, para os seus alunos da cadeira de Ensino a Distância. 

1. O que é o Ensino a Distância?

O Ensino a Distância - E@D - é uma modalidade de ensino que se constitui como uma alternativa de qualidade para os alunos impossibilitados de frequentar presencialmente uma escola, e que é atualmente alicerçada na integração das tecnologias de informação e comunicação (TIC) nos processos de ensino e aprendizagem como meio para que todos tenham acesso à educação. Os avanços no domínio dos sistemas tecnológicos permitem a configuração de ambientes virtuais de aprendizagem, com funcionalidades de integração pedagógica, permanentemente acessíveis a todos os participantes no processo educativo, em especial aos professores e aos alunos. Esta modalidade é sustentada em novas abordagens pedagógicas nos modos de ensinar e aprender, bem como em inovações ao nível da organização e gestão curricular, que atendam às necessidades específicas dos seus destinatários e aos contextos particulares em que se encontram, garantindo, em simultâneo, a necessária segurança da informação. A flexibilidade de tempo e de lugar proporcionada pelo ensino a distância permite que cada aluno desenvolva o seu percurso educativo e formativo ao ritmo que melhor se compatibiliza com a vida pessoal, familiar e escolar.

No Ensino a Distância podemos considerar sessões síncronas e sessões assíncronas. Sessões síncronas desenvolvem-se em tempo real e permitem aos alunos interagirem online com os seus professores e com os seus pares para participarem nas atividades letivas, esclarecerem as suas dúvidas ou questões, apresentarem trabalhos, designadamente no chat ou em videoconferências. Sessões assíncronas, desenvolvem-se em tempo não real, em que os alunos trabalham autonomamente, acedendo a recursos educativos e formativos e a outros materiais curriculares disponibilizados na plataforma de aprendizagem online, bem como a ferramentas de comunicação que lhes permitem estabelecer interação com os seus pares e professores, em torno das temáticas em estudo. 

2. Quais as principais diferenças entre o Ensino Presencial e o Ensino a Distância? O Ensino a Distância terá alguma vantagem relativamente ao Ensino Presencial?

No essencial, todas as dimensões da atividade docente que suportam o Ensino Presencial, envolvidas na gestão e dinamização das aulas, valem para o Ensino a Distância. Por outras palavras, nesta “migração digital” não chegamos no estado nativo mas antes transportamos connosco todo o “equipamento de experiência docente” que adquirimos até aqui.

Não precisamos enunciar aqui as mais-valias do Ensino Presencial relativamente ao Ensino a Distância. Pensamos que todos nós somos capazes de as enunciar sem esforço. Mas será mesmo assim?

Vários autores consideram que esta comparação de vantagens e desvantagens entre o Ensino Presencial e o Ensino a Distância não faz sentido dado que não existem entre si diferenças significativas. Ou seja, tudo o que “vale” para o Ensino Presencial, com que estamos amplamente familiarizados, “vale” para o Ensino a Distância tanto em termos didáticos como relacionais. Dito isto, a tarefa fica bem mais confortável! O professor que somos em contexto de Ensino Presencial será o que seremos em contexto de Ensino Distância, descontadas questões técnicas, as suas limitações e as necessárias adaptações.

Mas claro, que as diferenças existem, entre o Ensino Presencial e o Ensino a Distância, efetivamente, mas não é essa, de momento, a nossa prioridade. Ficamos apenas por dois exemplos. O Ensino Presencial garante uma proximidade física que permite uma leitura constante de sinais físicos, faciais e de expressões. que o Ensino a Distância nunca poderá atingir. Mas quantas respostas dos alunos o professor capta e considera quando coloca presencialmente um desafio, uma questão, aos 30 alunos de uma turma? Dará a palavra a 5, 6 alunos? No Ensino a Distância, porque o predomínio está centrado na comunicaçãoao escrita, uma questão colocada à turma obterá 30 respostas, que poderão depois ser analisadas, compiladas, verificadas, quantas vezes for necessário. Por outras palavras, “há muito mais” para memória futura no Ensino a Distância do que no Ensino Presencial. Mas, como dissemos, não temos aqui tempo nem espaço para dissecar essas diferenças. 

3. Como posso sobreviver ao excesso de informação com que estou a ser submegido(a) sobre Ensino a Distância? E as plataformas que algumas editoras disponibilizam podem ser caminho único para Ensino a Distância?

Bem, essa “tentativa” de submersão existe! Mas podemos sobreviver-lhe com algum…  distanciamento (!) J … Acima de tudo filtrando muito e usando o bom senso. A tecnologia será sempre um instrumento e não um fim em si mesma. Suporta, mas não lidera! Claro que teremos que conseguir inúmeras questões técnicas, mas esse é um desafio perfeitamente ao nosso alcance, um exercício de superação diário e muitas vezes colaborativo.

Relativamente à segunda questão, a resposta é “Não”. As plataformas disponibilizadas pelas editoras são soluções proprietárias desenhadas para estarem ao serviço dos seus interesses e produtos, estando encerradas em si próprias, não garantindo a “liberdade de expressão e ação” indispensáveis à atividade docente. São ferramentas que podem ser úteis, mas nunca como caminho único para suporte do Ensino a Distância. 

4. Qual é então a melhor solução combinada para passar rapidamente de Ensino Presencial para Ensino a Distância?

Reduzindo esta resposta à “fórmula mais curta” possível, pois o tempo urge, diriamos que a solução mais simples, necessária e suficiente, poderá ser a que combina:

Um Sistema de Gestão de Aprendizagem + Uma ferramenta de Videoconferência + O Livro Adotado

 Um sistema de gestão da aprendizagem (SGA) é uma plataforma digital acedível pela Internet capaz de suportar atividades, integrando múltiplos meios, linguagens e recursos, apresentar informação de maneira organizada, desenvolver interações entre os vários intervenientes na construção de ambientes virtuais de aprendizagem, possibilitando a cada aluno progredir no currículo com sucesso. Um exemplo de sistema de gestão da aprendizagem que recomendamos é a plataforma Moodle.

Ferramentas de videoconferência permitem a realização de videochamadas, associando à voz as capacidade do vídeo, suportando dois ou mais participantes. Um exemplo de ferramenta de videconferência que recomendamos é a Jitsi.

Acima de tudo, importa referir que a decisão sobre a melhor solução a adotar deve emanar da Direção de uma Escola/Agrupamento e não de cada docente. Desse modo, será possível criar uma base de sustentação do ensino comum, suficientemente flexível para permitir uma multiplicidade de abordagens, mas necessariamente tronco comum para um entendimento partilhado ao nível do Agrupamento/Escola. A solução combinada que aqui propomos tem esse grau de abrangência.

5. Quais são as principais características do Moodle?

A plataforma Moodle é um produto ativo e em evolução. As suas principais características são:

- É gratuita, podendo, no entanto, o seu alojamento ter custos para o Agrupamento/Escola.

- Promove uma pedagogia socioconstrucionista (colaboração, atividades, reflexão crítica, etc.).

- Adequado para aulas 100% online assim como complementando a aprendizagem face-a-face.

- Simples, leve, eficiente, compatível, com interface baseada em navegadores de tecnologia simples.

Não compete ao docente instalar ou administrar a plataforma. Essa é uma opção e decisão da Direção do Agrupamento/Escola que pode comprar esse serviço e designar um admnistrador, docente que tratará de todos os procedimentos de organização e gestão. Ao docente, competirá apenas a gestão do espaço das suas turmas. No entanto, também para a organização do espaço da turma deverão ser definidas, ao nível do orgão de gestão pedagógica do Agrupamento/Escola, diretrizes claras que permitam verosimilhança entre os espaços. De outro modo, será muito difícil para o aluno adaptar-se a espaços diversos diferentes em cada uma das disciplinas.

De seguida, sugerimos uma organização modular para esse espaço que tem por unidade a semana de trabalho.

Sessão nº 00 (Data ou Semana) - Indicação do Tema

 Marcação de presença

 Fórum standard

 

 Apresentação da sessão

Videoconferência usando o Jitsi (URL )

 

 Objetivos da sessão

- ???

- ???

- ???

 

Tarefas a realizar

1. ???

2. ???

3. ???

 

 Recursos

- ???

- ???

- ???

 

Entrega de resultados das tarefas

Dispositivo para entrega de trabalhos usando a Ferramenta Trabalho

 

 Sugestões de aprofundamento

- URLs, pastas, documentos

 

  Síntese final da sessão

Videoconferência usando o Jitsi (URL)

 

 Como é referido mais adiante, nas diretrizes emanadas pela tutela, é fundamental que se redefina a organização da semana de trabalho dos alunos e docentes para que não haja a tentação de recriar online os horários que as turmas tinham presencialmente. Faz sentido que seja adotada uma organização de trabalho tendo como unidade a semana e não as horas de aulas que estavam previstas até aqui para essa semana. Desse modo, alunos e docentes poderão estruturar a sua atividade de um modo completamente diferente e mais apropriado a condições mediadas.  

6. Quais são as principais características do Jitsi?

Jitsi é uma ferramenta de Videoconferência de comunicação em tempo real via Web, uma WebRTC. Está disponível em https://jitsi.org/ .

 As suas principais características são:

- É gratuita.

- Não é necessário efetuar registo – bastando apenas escolher uma designação para a sala a utilizar.

- Não tem latência, o que significa que entre o momento de emissão e o de receção não existe atraso.

- Permite a participação simultanea de até 50 pessoas.

- Não tem limite de tempo.

- Disponibiliza Chat.

- Permite gravar as chamadas (via DropBox).

- Permite partilha de ecrã ou vídeos do Youtube.

- Permite fazer streaming direto para Youtube.

- Pode ser utilizada em smartphones e tablets (através da respetiva app instalada).

- É software opensource, isto é, de código aberto, o que significa que está disponível para desenvolvimento por todos que o pretendam.

A criação de espaços de videconferência utilizando o Jitsi é uma tarefa sem qualquer dificuldade. Uma videoconferência é uma atividade síncrona que poderá ser utilizada para o grande grupo, por exemplo, no início da semana para o lançamento de um novo tema e no final da semana para a realização de uma síntese global em que todos participem sobre o tema em estudo. Pode, claro, também ser utilizada para reunir com um aluno ou em pequenos grupos de alunos para o esclarecimento de dúvidas ou a realização de trabalhos de grupo. 

7. Posso realizar avaliação dos alunos em Ensino a Distância?

A resposta é “Sim, claro!” O Ensino a distância garante condições para o desenvolvimento das competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, tendo a avaliação um papel fundamental nesse desenvolvimento.

E, já agora, importa aproveitar a oportunidade para refletir sobre a importância relativa da avaliação formativa e da avaliação sumativa. Avizinham-se grandes mudanças de paradigma a esse nível. O Projeto MAIA - Monitorização, Acompanhamento e Investigação em Avaliação Pedagógica, iniciativa da DGE, liderado pelo Professor Doutor Domingos Fernandes, está em curso. No CFAE_Matosinhos estamos a implementã-lo em dois Agrupamentos e as suas conclusões e diretrizes chegarão a todos os Agrupamentos/Escolas no próximo ano letivo. Até lá, deixamos, para reflexão, o conceito de Avaliação Formativa Alternativa (AFA) e as suas características, expresso pelo Professor Domingos Fernandes, em Estudos e Avaliação Educacional (2008). 

A AFA deve permitir que, num dado momento, se conheçam bem os saberes, as atitudes, as capacidades e o estádio de desenvolvimento dos alunos, ao mesmo tempo que lhes deve proporcionar indicações claras acerca do que é necessário fazer para progredir. No caso de ser necessário corrigir algo ou de melhorar as aprendizagens, torna-se imperativo que professores e alunos partilhem as mesmas ideias, ou ideias aproximadas, acerca da qualidade do que se pretende alcançar.

(…) Para clarificar a natureza e funções da AFA, integrando diferentes contributos teóricos, é oportuno sistematizar nesta altura algumas das suas características mais relevantes, tais como:

1. A avaliação é deliberadamente organizada em estreita relação com um feedback inteligente, diversificado, bem distribuído, frequente e de elevada qualidade tendo em vista apoiar e orientar os alunos no processo de aprendizagem.

2. O feedback é importante para activar os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos, que, por sua vez, regulam e controlam os processos de aprendizagem, assim como para melhorar a sua motivação e autoestima.

3. A natureza da interacção e da comunicação entre professores e alunos é central porque os professores têm que estabelecer pontes entre o que se considera ser importante aprender e o complexo mundo dos alunos (por exemplo, o que eles são, o que sabem, como pensam, como aprendem, o que sentem e como sentem).

4. Os alunos são deliberada, activa e sistematicamente envolvidos no processo do ensino-aprendizagem, responsabilizando-se pelas suas aprendizagens e tendo amplas oportunidades para elaborarem as suas respostas e para partilharem o que e como compreenderam.

5. As tarefas propostas aos alunos que, desejavelmente, são simultaneamente de ensino, de avaliação e de aprendizagem, são criteriosamente seleccionadas e diversificadas, representam os domínios estruturantes do currículo e activam os processos mais complexos do pensamento (por exemplo, analisar, sintetizar, avaliar, relacionar, integrar, seleccionar).

6. As tarefas reflectem uma estreita relação entre as didácticas específicas das disciplinas e a avaliação que tem um papel relevante na regulação dos processos de aprendizagem.

7. O ambiente de avaliação das salas de aula induz uma cultura positiva de sucesso baseada no princípio de que todos os alunos podem aprender. 

8. Depois de dominar o essencial do Ensino a Distância em que outros “trabalhos” me “devo meter”?

Primeiro importa que nos sintamos à vontade com os espaços e meios do sistema de gestão de aprendizagem adotado no Agrupamento/Escola onde exercemos funções. Mas, depois, o céu é o limite! São inúmeras as ferramentas que temos hoje disponíveis para aplicar em contextos educativos, tornando os nossos ambientes de aprendizagem verdadeiramente enriquecidos. Vai de experimentar, com o apoio do CFAE_Matosinhos, já agora! J

Deixamos aqui apenas uma “pequena” lista dessas ferramentas: Mentimeter, Socrative, Padlet, HotPotates, Class Dojo, entre tantas outras. 

9. Quais as diretrizes concretas que foram emanadas pelo ME sobre esta transição temporária e necessária para o Ensino a Distância?

 A DGEstE em parceria com a ANQEP publicou o Roteiro - 8 Princípios Orientadores para a Implementação do Ensino a Distância (E@D) nas Escolas que se transcreve de seguida.

 Com o objetivo de garantir que todas as crianças e todos os alunos continuam a aprender no presente contexto, este roteiro consubstancia um instrumento de apoio às Escolas, na conceção da melhor estratégia e Plano de Ensino a Distância (E@D), tendo em conta a sua realidade e o curto espaço de tempo de que dispõem.

O processo constitutivo e a respetiva implementação de um Plano de E@D preveem diferentes fases de preparação, debate interno, reflexão, levantamento e definição dos meios tecnológicos, entre muitos outros fatores, assumindo-se como um processo dinâmico e de melhoria constante.

A estrutura deste roteiro segue uma lógica sequencial de implementação do Plano E@D, apresentando um conjunto de orientações e recomendações, para um contexto único, nunca antes perspetivado.

Cabe a cada Escola, em função da fase em que se encontre e da sua realidade, refletir sobre os princípios apresentados e desenvolver o seu Plano E@D, encontrando as respostas mais adequadas e potenciadoras do sucesso educativo dos alunos.

Trabalhamos todos com a certeza de que a escola não está sozinha e pode sempre contar com o apoio das equipas de proximidade e dos serviços centrais, através do email apoioescolas@dge.mec.pt.

 1. Mobilizar para a mudança

 1.1. Envolver a comunidade educativa na procura do Plano E@D mais adequado à Escola.

No processo de mudança para o ensino a distância, o envolvimento de todos os atores educativos na tomada de decisão – direção, conselho pedagógico, coordenadores dos diretores de turma, de estabelecimento, de educação pré-escolar, de educação para a cidadania, coordenadores de departamento, diretores de turma, professores, diretores de curso, centros de recursos para a inclusão, entidades promotoras de atividades de enriquecimento curricular, pais/encarregados de educação, representantes de alunos - levá-los-á a uma melhor apropriação das ações a desenvolver.

 1.2. Definir um Plano de E@D adequado aos recursos disponíveis e ao público-alvo.

O desenvolvimento de um plano de E@D é um processo em constante construção, alicerçado na procura permanente das melhores respostas às características de cada comunidade escolar, quer ao nível tecnológico quer das suas competências digitais.

Um Plano de E@D poderá conter as seguintes etapas:

a) Definição das estratégias de gestão e liderança;

b) Estratégia e circuito de comunicação;

c) Modelo de ensino a distância;

d) Plano de monitorização e avaliação.

Independentemente da sua estrutura e modos de ação, o plano E@D deve ter como intenções chegar a todas as crianças e a todos os alunos, bem como a boa prossecução dos objetivos estabelecidos no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e nas Aprendizagens Essenciais, recorrendo aos meios necessários para tal. Quando se concebe o plano para todos os alunos, este deve ter em conta os princípios já existentes no desenho de medidas universais, seletivas e adicionais que já tinham sido adotadas no âmbito da educação inclusiva.

 1.3. Mobilizar parceiros disponíveis para colaborar.

A articulação com a edilidade e/ou com outros parceiros, por exemplo, as Juntas de Freguesia, as Bibliotecas, as Associações de Pais, as Associações de Solidariedade Social, os Bombeiros, os mediadores do Programa Escolhas, os mediadores de ONG, as organizações da Economia Social, entre outros, podem ser uma forma para chegar a todas as crianças e a todos os alunos.

Esta dimensão assume principal relevância para os alunos com problemas de conectividade e infraestrutura e/ou menor acompanhamento familiar.

1.4. Definir um papel para as lideranças intermédias na definição e concretização das

orientações pedagógicas.

As lideranças intermédias assumem um papel essencial no E@D, designadamente:

a) os coordenadores de ciclo/departamento e os diretores de curso, nas questões do acompanhamento e da concretização das orientações pedagógicas;

b) os diretores de turma, na organização e gestão do trabalho do conselho de turma/equipas pedagógicas.

O diretor de turma desempenha uma função central ao nível da articulação entre professores e alunos.

Organiza o trabalho semanalmente, centraliza a função de distribuir as tarefas aos alunos e garante o contacto com os pais/encarregados de educação.

Para apoiarem os docentes, os coordenadores devem demonstrar confiança no seu trabalho em curso, bem como transmitir tranquilidade e disponibilidade para esclarecimentos.

 1.5. Constituir uma equipa de apoio para dar resposta/organizar questões emergentes.

No sentido de agilizar o processo de decisão e a concretização das ações previstas, sugere-se a criação de uma equipa de apoio com diferentes valências, designadamente ao nível das decisões pedagógicas e do apoio tecnológico.

 2. Comunicar em rede

2.1. Estabelecer um circuito de comunicação eficaz, dirigido a todos os intervenientes da comunidade escolar.

Todas as ações e atividades de comunicação deverão:

a) nortear-se por uma mensagem central;

b) adequar-se aos destinatários;

c) seguir uma estratégia;

d) ser transmitidas nos momentos e através dos meios/canais mais adequados.

Deve ser claramente definido o papel de cada um, neste processo, bem como as formas de organização de reuniões/encontros/esclarecimentos.

 3. Decidir o modelo de E@D

3.1. Decidir qual a mancha horária semanal a cumprir pelos alunos: fixa ou flexível, incluindo os necessários tempos de pausa.

Na conceção do horário dos alunos no E@D, deverão ser equacionados os seguintes aspetos:

• mancha horária semanal fixa ou flexível;

• adaptação da carga horária semanal de cada disciplina/UFCD;

• definição do tempo de intervalo entre cada tarefa proposta (tarefas com um máximo de 20/30

minutos, conforme as faixas etárias);

• flexibilidade temporal na execução das tarefas;

• diferentes ritmos de aprendizagem.

 3.2. Organizar as equipas pedagógicas/os conselhos de turma para conceber o plano de trabalho dos alunos.

Em alinhamento com as orientações pedagógicas da escola, as equipas pedagógicas/os conselhos de turma concebem um plano de trabalho semanal para cada grupo/turma, sob a orientação do coordenador de estabelecimento/diretor de turma ou do diretor de curso.

 3.3. Equacionar a realização de modos de trabalho a distância, recorrendo com ponderação às sessões síncronas.

O E@D pode desenvolver-se através da realização de sessões síncronas e assíncronas, para:

• orientação educativa dos alunos (o que se pretende com cada tarefa, quais as páginas do manual a consultar, de que modo podem colaborar com os colegas, onde podem pesquisar informação adicional, como autorregularem o seu trabalho, por exemplo, através de um portefólio);

• esclarecimento de dúvidas, com horário fixo semanal, para o estabelecimento de rotinas e conferir segurança aos alunos.

 4. Colaborar e articular

4.1. Promover a interajuda entre professores.

Neste momento de rápidas mudanças, a partilha e colaboração entre pares assume particular importância. Importa, pois, incentivar a colaboração e o espírito de equipa, conferindo, assim, segurança aos professores, num momento de experimentação de novos modos de ensinar.

 5. Metodologias de Ensino

5.1. As metodologias de ensino desenvolvidas no E@D devem ser apelativas e mobilizadoras dos alunos para a ação.

As metodologias de ensino a distância deverão ser diversificadas, enquadradoras, propiciar a apresentação de exemplos e fomentar a autorreflexão e o trabalho autónomo.

No equilíbrio articulado entre as diferentes disciplinas, deve ser equacionado o tempo global que se prevê que os alunos dediquem à aprendizagem, prevendo um equilíbrio dado a diferentes estratégias e ponderando o trabalho que pode ser feito síncrona e assincronamente, tendo em conta que as atividades e métodos a desenvolver não podem depender do papel e competências dos encarregados de educação, considerando as suas diferentes possibilidades e capacidades.

 5.2. Desenvolver metodologias de ensino que promovem um papel ativo dos alunos na procura de novas aprendizagens.

A mobilização dos alunos para as aprendizagens poderá passar pelo desenvolvimento de projetos interdisciplinares, que levem os alunos a mobilizar as aprendizagens de várias disciplinas/componentes de formação/UFCD. Por exemplo, poderão ser apresentadas tarefas centradas em questões-problema, estudos de caso, projetos, entre outros.

 5.3. Fomentar o desenvolvimento das áreas de competências do Perfil dos Alunos.

No E@D, adquire particular relevância o desenvolvimento das competências do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, alicerçado nos valores e princípios que apresenta.

A título exemplificativo, poderão ser desenvolvidas as seguintes áreas de competências: informação e comunicação; relacionamento interpessoal; pensamento crítico e criativo; desenvolvimento pessoal e autonomia; bem-estar, saúde e ambiente. A este propósito, é de referir que o E@D é uma modalidade que permite que competências transversais e interdisciplinares sejam trabalhadas de forma integrada e articulada, através da diversificação de formas de trabalho.

 6. Selecionar os meios tecnológicos de E@D

6.1. Encontrar os meios tecnológicos que auxiliam o ensino a distância sem inundar os alunos de múltiplas soluções de comunicação.

Para o desenvolvimento das atividades de E@D, deve ser criada uma equipa de apoio tecnológico que organiza os meios, dá orientações e capacita os professores, sobre soluções de comunicação. Deve, entre outros aspetos, evitar-se uma dispersão por plataformas e formas de cooperação.

 6.2. Recorrer aos meios tecnológicos já utilizados anteriormente pelos professores e pelos alunos.

Independentemente de uma seleção de plataforma específica de apoio ao ensino e à aprendizagem por cada Escola, deverão ser rentabilizados os meios tecnológicos com os quais todos estão familiarizados, tais como email, programa de gestão de alunos, blogues, entre outros.

 6.3. Disponibilizar apoio técnico e pedagógico aos professores, tendo em vista a utilização dos meios tecnológicos.

Para o desenvolvimento das atividades de E@D, deve ser criada uma equipa de apoio tecnológico e pedagógico que organiza os meios e, posteriormente, apoia de forma personalizada os professores.

6.4. Capacitar os professores para a utilização dos meios tecnológicos selecionados.

A partir do diagnóstico das necessidades de cada Escola, a equipa de apoio tecnológico pode dinamizar pequenas sessões de capacitação/esclarecimento ou realizar tutoriais, webcasts, entre outras.

Adicionalmente, deve ser incentivada a partilha de práticas entre professores.

 7. Cuidar da comunidade escolar

7.1. Desenvolver atividades promotoras do sentimento de pertença à turma.

Manter a ligação à escola e ao grupo/à turma implica construir espaços em plataformas digitais, para divulgação dos trabalhos efetuados pelas crianças/pelos alunos, bem como fomentar o estabelecimento de comunicações regulares entre professores e alunos e entre alunos. Na educação pré-escolar e no 1.º ciclo, este aspeto assume particular importância.

 7.2. Pensar no desenvolvimento do bem-estar emocional dos alunos e na promoção da confiança face à escola, enquanto se aprende a partir de casa.

O desenvolvimento de atividades a distância com os alunos deve centrar-se na criação de rotinas de trabalho, que confiram segurança aos alunos, e que são diferentes das presenciais. Paralelamente, deverão ser desenvolvidas atividades de carácter lúdico, que promovam o bem-estar emocional do aluno, tais como o envio de mensagens em suporte vídeo, sms ou papel.

 7.3. Prevenir situações de isolamento de alunos

O contacto entre alunos através de espaços digitais, ou outros meios tecnológicos, é essencial para a manutenção das interações sociais e da sua motivação para a realização das tarefas. As atividades propostas deverão contemplar espaços de interação e de convívio, promovendo o trabalho de grupo e quebrando o isolamento em que os alunos se encontram. É importante prever o papel a desempenhar pelos psicólogos e pelos professores que apoiavam os alunos no apoio tutorial específico, mobilizando todos os recursos disponíveis.

 7.4 Incentivar a interajuda entre os alunos.

Nesta fase, a interajuda é primordial, devendo ser promovidas técnicas de colaboração entre alunos, quer ao nível da realização das tarefas quer ao nível da regulação interpares.

Poderão ser atribuídas funções específicas aos alunos de uma turma, mediante as suas competências.

Exemplos: consultores digitais, que auxiliam os seus colegas na utilização dos meios tecnológicos; delegado de turma, que fomenta a participação dos colegas na execução das tarefas propostas e ajuda a monitorizá-las, entre outros.

 8. Acompanhar e monitorizar

 8.1. Prever formas de monitorização.

No sentido de permitir a monitorização e a regulação do plano E@D em cada escola, importa:

1. Criar uma equipa responsável por este trabalho (sugere-se um máximo de 3 pessoas), com consulta regular aos alunos;

2. Definir indicadores de qualidade e de quantidade, bem como de periodicidade de recolha.

Como indicadores de qualidade, poderão optar pela monitorização do grau de satisfação dos docentes, dos alunos e dos pais/EE, bem como a qualidade do feedback dado a alunos, visando a monitorização das aprendizagens.

Como indicadores de quantidade, poderão optar, por exemplo:

- taxa de concretização das tarefas propostas pelos professores;

- n.º de tarefas enviadas pelos professores, em função do plano de trabalho elaborado; - disponibilização de meios tecnológicos de E@D;

- apoio ao desenvolvimento de competências digitais de professores e de alunos;

- desenvolvimento de mecanismos de apoio, dirigidos aos alunos sem computador e ligação à internet em casa.

 Informação adicional

- Sítio de Apoio às Escolas - https://apoioescolas.dge.mec.pt/

- 10 Recomendações sobre o ensino a distância da Unesco

- OCDE, Education responses to covid-19: Embracing digital learning and online collaboration, 23 de março de 2020

- meDe, Missão Estratégica Digital da Escola, ANPRI 

10. De que forma o CFAE_Matosinhos vai apoiar os docentes nesta “migração” (temporária) para Ensino a Distância?

O CFAE_Matosinhos oferece formação em todas as dimensões técnicas e pedagógicas necessárias para o desenvolvimento de Ensino a Distância pelos docentes de Matosinhos desde o primeiro ano da sua existência – 2008. Desde essa altura, facultamos centenas de lugares de formação em ações dedicadas à plataforma Moodle e, mais recentemente, a outras temáticas complementares como é o caso da contrução de instrumentos online de avaliação, das aplicações móveis na educação, da gamificação ou mesmo da exploração do conceito de aula invertida.

Acresce que, interpretando a situação atual de contingência relacionada com a Pandemia COVID-19, o CCPFC – Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua deu ao CFAE_Matosinhos a possibilidade de passar formação “em regime presencial” para “regime a distância”. Ora, por decisão do Conselho de Diretores do CFAE_Matosinhos, procedemos assim a um conjunto significativo de alterações ao nosso Plano de Formação concluindo em sessões mediadas algumas turmas que terminavam no final do 2º Período e convertendo em regime a distância 16 das 17 turmas que têm início marcado para o princípio do 3º Período.

Desde 2008, o CFAE_Matosinhos teve oportunidade de fornecer formação em regime de b-learning, praticamente todos os anos e em várias turmas por ano.

Estes factos, municiaram muitos dos docentes de Matosinhos com experiência de situações de Ensino a Distância que agora pode ser mobilizada, havendo “apenas” necessidade de mudar do papel de formando para o lugar de formador.

Ao longo das próximas semanas, teremos oportunidade de oferecer uma sequência de ACD dedicadas à implementação de Ensino a Distância que abordarão diferentes temáticas que vão desde a instalação e alojamento de servidores apropriados (pensando nas Direções que terão que tomar decisões neste campo) até à gestão e utilização das ferramentas que estão à disposição do docente num sistema de gestão de aprendizagens. 

Para terminar

Acima de tudo, gostavamos de terminar com uma mensagem de esperança! Vamos, certamente, conseguir ultrapassar este fenómeno COVID-19 que distorceu completamente o nosso espaço-tempo, e, como em todas as adversidades, seremos capazes de sair mais fortes e mais experientes e, já agora, por que não, passarmos a incluir nas nossas práticas de trabalho habituais todas as potencialidades que o Ensino a Distância (afinal) encerra e com as quais vamos lidar nos próximos tempos!

Uma certeza - O CFAE_Matosinhos estará, ao longo de todo este processo, onde sempre esteve – cumprindo a missão que lhe foi confiada e que pode sintetizar-se assim:

Nos olhos... a missão talvez idealista, tanto de sonho, um pouco de artista… e a paixão de sermos

ajudantes de compreender o mundo... 

Bibliografia

DGEstE, Roteiro - 8 Princípios Orientadores para a Implementação do Ensino a Distância (E@D) nas Escolas, Disponível em: https://www.dge.mec.pt/noticias/roteiro-8-principios-orientadores-para-implementacao-do-ensino-distancia-ed-nas-escolas, Acedido em 2020-04-01

 Fernandes, Domingos (2008). Para uma teoria da avaliação no domínio das aprendizagens. Disponível em https://aeolivais.edu.pt/docs/orientadores/Para_uma_teoria_avaliacao_dominio_aprendizagens.pdf. Acedido em 2020-04-02

 Portaria n.º 359/2019, de 8 de outubro - Procede à regulamentação da modalidade de ensino a distância, prevista na alínea a) do n.º 1 do artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho, definindo as regras e procedimentos relativos à organização e operacionalização do currículo, bem como o regime de frequência.

  

  

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